Espiritualidade no cuidar de pacientes em cuidados paliativos é tema de evento
8 de julho, 2022
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), Cuidados Paliativos são definidos como cuidados ativos e totais voltados para pacientes cujas doenças não respondem mais a tratamentos curativos e têm o objetivo de proporcionar a melhoria da qualidade de vida destes indivíduos, bem como de seus familiares, por meio do alívio da dor e de problemas biopsicossociais e espirituais. Assim, mesmo quando não há mais o que ser feito pela cura de uma doença, ainda há muito a ser feito pela pessoa que a tem e as que estão à sua volta.
A dimensão espiritual tem sido reconhecida como um importante recurso interno, que ajuda os indivíduos a enfrentarem as adversidades, os eventos traumatizantes e estressantes, particularmente, relacionados ao processo de saúde-doença, como no caso de pacientes fora das possibilidades de cura. Desse modo, os princípios dos cuidados espirituais podem ser aplicados aos pacientes que se encontram em cuidados paliativos no decorrer de todas as fases e contextos, independente da cultura, tradição religiosa e referência espiritual.
O IPCEP e a Direção do Complexo Estadual de Saúde da Penha receberam, na tarde do dia 04 de julho, no Hospital Estadual Getúlio Vargas, o Capelão Titular do INCA IV e PLACI, Bruno Oliveira, para falar sobre “Espiritualidade e Cuidados Paliativos”. O evento, que contou com a presença do Diretor Geral, Dr. Paulo Ricardo Lopes da Costa, e da Diretora Técnica, Dra. Flávia Nobre, faz parte do Ciclo de Palestras promovido pela Comissão de Cuidados Paliativos da unidade.
Doutorando em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Bacharel em Teologia pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro (FABAT) e membro fundador do Comitê de Espiritualidade da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (SBED), Bruno afirma que é preciso, antes de tudo, perceber a diferença entre espiritualidade e religião. “A espiritualidade é um termo que pode abranger diversos significados, com enfoques religiosos ou não, por isso pode ser confundido com religião. A religião é o conjunto específico de crenças e práticas relacionadas com a fé, que reconhecem, aproximam e facilitam o acesso ao Sagrado, Divino, Deus e Verdade absoluta. Normalmente, é baseada em um conjunto de escrituras ou ensinamentos, e costuma oferecer um código moral de conduta. A espiritualidade, por sua vez, é um termo mais amplo que religião e refere-se ao aspecto da condição humana, que se relaciona com a maneira pela qual os indivíduos buscam e expressam o significado e propósito da vida, assim como a maneira que expressam um estado de conexão com o momento, consigo mesmo, com o mundo, com a natureza e com o sagrado”, explica o Teólogo.
A espiritualidade é um tema de interesse crescente no campo da saúde e dos cuidados paliativos e todos os profissionais que atuam no cuidado do paciente paliativo são responsáveis por um olhar holístico que contempla, no processo de cuidar, as dimensões biológica, psicológica, social e espiritual do ser humano. Sob essa ótica, a compreensão do fenômeno espiritualidade é fundamental para a oferta de uma assistência de qualidade e ainda mais humanizada.
Para o Dr. Sandro Oliveira, “a espiritualidade auxilia os pacientes terminais a resistir às pressões e aos desconfortos físicos e psicológicos de tal modo a promover o seu bem-estar até o último momento de sua vida. Ela pode ajudá-los, aos familiares e aos profissionais que atuam em cuidados paliativos a enfrentarem, com mais tranquilidade, as situações de iminência de morte ou a morte em si”, esclarece o médico coordenador dos CTIs 1 e 2 do HEGV e presidente da Comissão de Cuidados Paliativos.
Os princípios dos Cuidados Paliativos são: controle da dor e sintomas de sofrimento; afirmam a vida e consideram a morte como um processo normal; não acelerar a morte (eutanásia) nem prolongar o processo de morte (distanásia), mas permitir que ocorra no tempo próprio e com o sofrimento amparado (ortotanásia); integrar os aspectos da dor total (físico, psíquico, social e espiritual) na assistência; oferecer um apoio para ajudar os pacientes a viveram o tão ativamente quanto possível até a morte; oferecer apoio e ajudar a família em sua adaptação durante a enfermidade do paciente e se estendendo à fase do luto pós morte; servir-se de um equipe interdisciplinar para que possa abarcar as necessidades múltiplas dos pacientes e familiares; melhorar a qualidade de vida; iniciar, de forma precoce, os Cuidados Paliativos, não só resgatando a identidade e o valor pessoal, como evitando sofrimento desnecessário.
O mundo todo carece da ampliação dos Cuidados Paliativos e uma boa forma de favorecer esse acontecimento é um pequeno ato de conscientização para que, tomando conhecimento de sua existência, filosofia e benefício, progressivamente possa ser um cuidado incorporado à assistência em todas as fases da atenção assistencial e multidisciplinar.
O IPCEP e a Direção do Complexo Estadual de Saúde da Penha apoiam as ações da Comissão de Cuidados Paliativos do Hospital Estadual Getúlio Vargas e UPA Penha 24h. Promover o acolhimento espiritual é essencial como fonte de esperança para superar as dificuldades, dando um significado ao sofrimento humano, favorecendo a ligação com algo superior; é ser responsável pelo outro; é descobrir a própria espiritualidade, através da compaixão para com o outro.
Fontes: Organização Mundial da Saúde (OMS), Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), The Economist, Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), Instituto Oncoguia, Franciscanos, Faculdade Batista do Rio de Janeiro (FABAT), Comitê de Espiritualidade da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (SBED) e Comissão de Cuidados Paliativos do Complexo Estadual de Saúde da Penha. Fotos: IPCEP.